Receita para ser infeliz

Postado por: Dino Pessoa

Juro por Deus que quando meus olhos viram o que viram minha mente se recusou a entender, e mais ainda a aceitar, o que estava escrito.

Deixa eu começar pelo começo.

Embora eu seja cristão (mas não evangélico, nem católico, nem qualquer rótulo igrejeiro desses) gosto de ler o que um menino muito inteligente escreve em seu blog, num tom que parece que se ouve o seu sotaque gaúcho. Falo do blog A Grande Abóbora. O autor do blog é ateu, matemático, mas ainda assim um grande sujeito, e vira e mexe ele traz sua visão absurdamente lógica das coisas para o blog, e mesmo que eu não concorde com ele, agrada-me ler.

Nessa madrugada insone eu estava lendo o blog e encontrei um texto chamado Por que as coisas caem para baixo?, que aqui e agora serve apenas como mote para eu falar do que realmente está me "incomodando": no meio do texto (que parece ter sido uma barriga, pois The Onion é um site que só veicula pilhérias) ele cita um link para uma pergunta, em Inglês, do Yahoo! Answers (em Português temos o Yahoo! Respostas): I'm concerned that my son has a secret girlfriend?

Para quem não lê Inglês eu dou uma ajudinha: uma mãe descobriu uma revista com fotos de homens nus no quarto de seu filho de 17 anos, que ultimamente anda de segredinhos e não quer mais ir à igreja. A certeza da mãe é que ele tem uma namorada secreta que levou a revista de homens pelados pra casa dela; o medo dela é que o rapaz engravide a moça; a dúvida é como agir ante tal situação.

É claro que as pessoas que respondem essas perguntas esfregaram na cara da mulher a verdade que ela está negando: o filho é gay e em vez de ficar tentando tapar o sol com a peneira ela deveria era conversar com o rapaz, e ensinar-lhe como se usam preservativos, sobre doenças sexualmente transmissíveis, etc.

Mas nada disso! A mula (com perdão às mulas que mesmo sendo estéreis seriam melhores mães que essa criatura) prefere negar a condição, porque sempre ensinaram ao garoto que é errado ser gay, que Deus odeia as bichas, que usar preservativo é pecado, e sei lá o que mais.

Essa história me lembra um excelente filme que vi há algum tempo chamado de Latter Days (Últimos Dias em Português), que conta o drama de um jovem mórmon que se vê em conflito entre o que os pais hipócritas prepararam para sua vida e o seu sentimento por um outro jovem, sentimento este que ao ser exposto lhe custa um alto preço.

Graças a Deus que meu pensamento já conectou essa informação horrível (dessa mãe cega) com um filme lindo e emocionante. Mas vou tentar retomar o raciocínio original.

Este jovem, o da revista gay, tem só uma chance de ser um adulto saudável: é ele ter uma estrutura psicológica inata suficientemente equilibrada a ponto de não assimilar mais traumas e problemas oriundos de uma família ignorante e preconceituosa. Ele vai ter que ter jogo de cintura para ir enrolando a família (a mãe, já que o pai deve ser um hipócrita ausente) até ter condições de dar o fora de casa para viver a própria vida em paz.

Caso contrário, ele vai acabar sendo expulso da família (ele não sabe que é melhor não ter família do que ter um lixo como o dele, mas não sou eu quem vou dizer), vai parar na rua, e sabe-se lá a que estará exposto.

Caso isso aconteça, é pouco provável que os pais sintam sequer uma ponta de remorso, pois eles acham que estão expulsando o demônio de dentro de sua casa; a última coisa que passa pelas suas cabeças é que são responsáveis por este filho, e que o amor por ele deveria estar acima de qualquer outra coisa.

Esse mundo não tem mais jeito mesmo. Ou será que tem?

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